sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A vida de Lazarilho de Tormes (1553?) 
Anônimo - Espanha           
Tradução: Stella Leonardos         
Rio de Janeiro: Alhambra, 1984, 96 páginas 


Esta narrativa, fôrma da qual deriva toda a literatura picaresca ocidental, contempla as fortunas e adversidades de Lázaro (Lazarilho), natural de Salamanca, "filho de Tomé González e Antona Pérez", nascido "dentro do rio Tormes" (p. 15). Órfão de pai aos oito anos, o protagonista é dado pela mãe a um cego e assim iniciam-se suas desditas. Sempre lutando para não morrer de fome, vai pouco a pouco se tornando mentiroso, ladrão e covarde, tendo como mestres o cego hipócrita de quem é guia; um clérigo avaro; um escudeiro que se passa por nobre mas que o usa para mendigar comida pelas ruas de Toledo, cidade onde se estabelece*; um frade "amicíssimo de negócios seculares e visitas" (p. 76); um vendedor de falsas bulas para resgatar prisioneiros das Cruzadas. Sua vida começa a mudar quando passa a trabalhar para um capelão, repartindo água pela cidade. Dono de "um gibão de fustão velho e um saio puído (...) e uma capa que havia sido frisada e uma espada antiga (...)" (p. 91), torna-se pregoeiro e casa-se com a criada de um arcipreste de quem, aliás, todos dizem ser amante, mas que é para ele "(...) a coisa que mais quero e amo mais que a mim" (p. 96). Uma visão ácida, mas bem humorada, da sociedade espanhola, particularmente da instituição da Igreja corrupta, cínica e amoral. 


* Quando criado do vendedor de bulas, Lazarilho de Tormes acompanha o amo até a Mancha (p. 86), onde 50 anos depois nasceria o maior personagem da história da literatura universal, Dom Quixote... Curioso, isso... 


Avaliação: BOM 

(Dezembro, 2015)


Entre aspas

"(...) diz Plínio que não há livro, por mau que seja, que não tenha algo de bom (...)" (p. 13)

"'Quantos deve haver no mundo que fogem de outros porque não se vêem a si mesmos?'" (p. 17)

"- Que vos parecem estes vilões, que só com dizer somos cristão-velhos, sem fazer obras de caridade, pensam ser salvos, sem nada pôr de sua fazenda?" (p. 86)


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