terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A balada do café triste (1951) 
Carson McCullers (1917-1967) - Estados Unidos 
Tradução: Caio Fernando Abreu        
Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2010, 191 páginas 


São sete contos que demonstram, à perfeição, a maestria dessa autora que escreveu pouquíssimo. Sua capacidade de compreender o ser humano pode ser resumida na fala do velho que protagoniza a última história do livro: "Eu posso amar qualquer coisa. (...) Vejo uma rua cheia de gente e uma linda luz surge dentro de mim" (p. 189). É assim com a adolescente que perde a capacidade de tocar piano com sentimento ("Wunderkind"); com o jóquei que entrega-se à destruição após um acidente com o parceiro ("O jóquei"); com o professor que, ao descobrir o motivo pelo qual sua colega mente todo o tempo, se enternece ("Madame Zilensky e o Rei da Finlândia"); com o jornalista que ao jantar com a ex-mulher e sua nova família percebe o vazio de sua existência ("O transeunte"); com o marido que, superando a decepção, comove-se com a mulher alcoólatra ("Um dilema doméstico"); com o velho que aprendeu a amar coisas e gentes ("Uma árvore, uma rocha, uma nuvem"). É interessante notar que "A balada do café triste", que poderia facilmente ser encaixado dentro da corrente do realismo mágico latino-americano, precede o movimento em alguns anos: numa pequena cidade da Georgia, Amelia Evans, 1,80 m de altura, agricultora, agiota, ervateira, vive um paixão devastadora por um anão corcunda, mau caráter, interesseiro e preguiçoso.


* Vale a pena observar o verdadeiro tratado sobre o amor (a diferença entre amado e amante) presente nas páginas 42 e 43. Sublime.

     


Avaliação: MUITO BOM

(Fevereiro, 2016)


Entre aspas

"O coração de uma criança machucada às vezes pode encolher, tornar-se seco e duro como o caroço de uma fruta. Ou, ao contrário, pode inchar com os ferimentos, magoando-se com a mais extrema facilidade". (p. 46)

"Oh - disse a mosca presa na roda da carroça - que poeira nós estamos levantando!" (p. 85)



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