terça-feira, 16 de agosto de 2016


Duas histórias (1896 e 1897) 
Joseph Conrad (1857-1924) - Polônia    
Tradução: Julieta Cupertino                
Rio de Janeiro: Revan, 2004, 114 páginas



Este livro reúne dois contos com distintos resultados. O primeiro, "Karain: uma memória", no fundo é uma história de amor e obsessão de um chefe tribal, Karain, por uma visão de mulher e por um compromisso. Situada entre as terras que hoje pertencem à Indonésia e às Filipinas*, a narrativa se desenvolve arrastada e solene, o que acaba tirando muito de sua força dramática. Não é o caso da pequena obra-prima, "Um posto avançado do progresso", espécie de antecipação do desvario presente em O coração das trevas (1899). Kayerts, um ex-funcionário da Administração dos Telégrafos, é designado chefe de uma estação de coleta de marfim no interior da África (no então Congo Belga, provavelmente, embora não esteja explícito o cenário), tendo como subordinado o agente de segundo classe Carlier, ex-soldado do Exército. A ligação entre eles e os nativos chama-se Makola, um "negro de Serra Leoa" (p. 79), que vive por perto com a mulher e três filhos. O papel dos dois homens brancos é apenas o de manter o lugar funcionando até a passagem do barco de coleta, o que ocorre de seis em seis meses. Neste ínterim, no entanto, Kayerts e Carlier, enlouquecidos pela solidão e pela incompreensão da cultura local, deixam aflorar seus instintos mais primitivos, redundando em uma tragédia de conotações bíblicas.


* A orelha do livro induz o leitor a erro, quando afirma que os ambos os contos "são ambientados nas ilhas da Malásia" - o que não ocorre nem a um, nem a outro. "Karain: uma memória" explicita que o protagonista é um "humilde chefe de um canto insignificante de Mindanao" (parte das Filipinas), enquanto todos os indícios nos levam à certeza de que o "posto avançado do progresso" situa-se no coração da África Negra, possivelmente no ex-Congo Belga, atual República Democrática do Congo, mesmo cenário de O coração das trevas.


Avaliação: BOM 

(Agosto, 2016)






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