quinta-feira, 13 de abril de 2017

O fogo-fátuo (1931)
Drieu la Rochelle (1893-1945) - FRANÇA   
Tradução: Aníbal Fernandes     
Lisboa: Sistema Solar, 2016, 156 páginas



Alain tem trinta anos: egocêntrico, vaidoso, mimado, narcisista, impotente, é viciado em heroína. O narrador nos propõe acompanhar as últimas horas desse personagem, que desde as primeiras páginas sabemos que vai se suicidar. Apático, ele deixa o hotel onde passou a noite com uma de suas amantes, Lydia, que, prestes a voltar para os Estados Unidos, lhe deixa um cheque de 10 mil francos - que ele aceita com ansiedade e desprezo. O protagonista torna, então, à clínica de desintoxicação, onde somos levados a conhecer alguns de seus colegas voluntariamente internados. No dia seguinte, após descontar o cheque, ele visita um amigo, Dubourg, egiptólogo amador, casado e pai de duas meninas, que tenta convencê-lo dos prazeres da vida pacata. Em Montmartre, no estúdio do fotógrafo Falet, que junto com uma mulher, Eva Canning, toma ópio, Alain injeta heroína em sua veia. Dali, vai à casa de Praline, onde encontra outros drogados. No fim da tarde, dirige-se à mansão dos Lavaux e mais conversas pretensamente niilistas. Regressa a Montmartre, onde no banheiro de um bar encharca-se novamente de heroína. Afinal, no quarto da clínica, pega um revólver e se mata. Todo o tempo o narrador quer justificar as motivações de Alain, por que ele é incompreendido pela sociedade, mas eu pelo menos em momento algum consegui sentir qualquer simpatia - e muito menos empatia - pelo personagem. Todos os seus passos me pareceram absolutamente gratuitos - mas não se trata daquela "ação gratuita" típica dos personagens dostoievskianos, concebível, porque humana, mas de "inação gratuita". Ao fim e ao cabo, acompanhamos, sem prazer, sem fruição, um insuportável heroinômano flanar reclamando pelas ruas de Paris. O Autor escreve bem - "A sua pele era o couro forte e sujo de uma mala de luxo muito viajada" (p. 24); "vivia nos quartos vazios da moral" (p. 96); "Praline tinha sido fresca como uma infância" (p. 100) -, mas nem isso me provocou comoção. Alain, que "só pensava em dinheiro", mas que estava separado dele "por um abismo quase intransponível, escavado pela preguiça, pela secreta e quase imutável vontade de nunca o arranjar com trabalho" (p. 38), explica assim a sua opção: "drogo-me, porque faço mal o amor" (p. 81). Além do breve romance, "O fogo fátuo", o livro é composto por um pequeno conto, "Adeus a Gonzague" - Gonzague é um outro nome para Alain - que nada acrescenta.

(Abril, 2017)


Avaliação: NÃO GOSTEI     

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