quarta-feira, 6 de setembro de 2017

O mistério Frontenac (1933)
François Mauriac (1885-1970) - FRANÇA 
Tradução: Eunice Gruman 
Rio de Janeiro: Globo, 1988, 160 páginas





Narrativa delicada e melancólica sobre a passagem do tempo e a destinação que damos à nossa vida. Estamos na primeira década do século XX, na região de Bordeaux. Os Frontenac são donos de uma madeireira e de vastas terras. Michel morreu deixando a viúva, Blanche, da aristocrática família Arnaud-Miquieu, com cinco filhos pequenos: Jean-Louis, Yves, José, Marie e Danièle. Xavier, que mantinha uma relação de profunda admiração pelo irmão, praticamente renuncia à vida e à herança para garantir um futuro mais tranquilo aos sobrinhos. Acompanhamos então o crescimento das crianças: o bondoso e generoso Jean-Louis obrigado a abrir mão de suas pretensões de se tornar professor de filosofia para assumir os negócios da família; o sonhador Yves radicando-se em Paris em nome de uma carreira de escritor e que acaba imerso na futilidade da capital; o arrivista José indo cumprir o serviço militar no Marrocos para afastar-se da vida dissoluta que levava; e Marie e Danièle cumprindo o papel reservado às mulheres da província, na época, de se casarem e tornarem-se mães. Conhecemos os personagens, intensamente humanos em sua complexidade, por meio de rápidas e precisas pinceladas: o pragmatismo de Blanche; o moralismo doentio de Xavier, que esconde a mulher por não serem casados; as tentativas fracassadas de Jean-Louis de implantar melhorias para os trabalhadores na firma em que os Frontenac são sócios; os amores devassos de Yves; as dívidas contraídas por José. E vêm as mortes... o câncer de Blanche, a angina de Xavier... mais tarde, já fora do tempo da narrativa, José caído num campo de batalha, em 1915... E a certeza de que somente a crença na imortalidade da alma pode provocar alguma paz: "toda a família obteria a graça de unir-se por um único abraço, de confundir-se para sempre na terra adorada, no nada" (p. 159).



(Setembro, 2017)



Avaliação: BOM

Entre aspas:

"A morte não nos entrega somente aos vermes, mas também aos homens; eles roem as lembranças e as decompõem (...)" (pág. 123)

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